Sempre falo sobre esse assunto com meus alunos, mas, recentemente, fui chamada por uma ex-aluna, hoje enfermeira, para ajudá-la a enfrentar as dificuldades da supervisão.
Esse é um assunto que merece reflexão e discussão, pois a função de supervisão tem sido considerada um instrumento capaz de influenciar aspectos significativos das organizações, como, por exemplo, o índice de absenteísmo (ausências), o turn-over (rotatividade de colaboradores), a produtividade e a qualidade do serviço executado.
Atualmente o supervisor deve voltar a atenção para o colaborador, procurando compreendê-lo e auxiliá-lo a desenvolver-se, com ações de caráter educativo, diferentemente do que era feito no passado, onde buscava-se a obtenção do máximo rendimento, indiferente às necessidades de cada indivíduo.
O supervisor deve preocupar-se com o planejamento, a execução e a avaliação do trabalho, visando sempre a sua melhoria e o crescimento do pessoal.
Entretanto, em algumas instituições o modelo de supervisão ainda é centralizador, autoritário, com ênfase na produção em detrimento ao fator humano.
Algumas técnicas que podem ser utilizadas
- Observação direta
- Análise de registros
- Entrevista
- Reunião
- Discussão em grupo
- Demonstração
- Orientação
- Estudo de caso
- Dinâmica de grupo
Alguns instrumentos que podem ser utilizados
- Prontuário
- Prescrição de enfermagem
- Plano de supervisão
- Cronograma
- Roteiro
- Manual do serviço
- Procedimentos e rotinas
Etapas para o desenvolvimento da função de supervisão
- Planejamento – compreende desde a percepção de uma necessidade de ação até a decisão quanto ao que será feito, por quem e quando. Portanto, você deve identificar as necessidades, definir as prioridades, descrever os objetivos e as atividades a serem realizadas, determinar o agente para executá-las e definir um período de tempo. Nesta fase você pode utilizar:
– Um plano de supervisão – direcionando as atividades que devem ser realizadas
– Um cronograma – para priorizar ou determinar quando desenvolverá cada atividade
– Um roteiro – informações a respeito do objetivo da supervisão, da área supervisionada, dos aspectos analisados, dos resultados encontrados, das orientações e recomendações dadas
- Execução – você deve colocar o seu planejamento em prática, operacionalizar seus planos, roteiros, cronogramas, etc. É necessário ter competência profissional, habilidades de relacionamento, motivação para o desenvolvimento do pessoal, crença no potencial de cada colaborador e na importância do seu envolvimento nas tomadas de decisão.
- Avaliação – você deve iniciar a avaliação dos resultados durante o processo, pois isso te dará subsídios importantes para o replanejamento se for necessário.
Ao término de todas as ações planejadas, deve ser feita uma avaliação geral onde são analisados, desde os resultados obtidos, a pertinência dos objetivos e das ações, e as técnicas e instrumentos utilizados.
Algumas dificuldades no desenvolvimento da supervisão
- Filosofia do serviço de enfermagem – algumas instituições não enfatizam a importância do desenvolvimento de pessoal e da manutenção de relações interpessoais baseadas no respeito mútuo, no interesse em ajudar os colaboradores a superarem suas limitações, para com isso, terem um desempenho melhor.
- Política de trabalho centralizadora e autoritária – esse perfil valoriza modelo “tarefeiro” e não estimula a participação dos colaboradores no processo decisório, nem a adoção de uma postura reflexiva e conscientizadora, mantendo-os, assim, imaturos e incapazes de interferir no processo vivenciado
- Inadequação dos recursos humanos – o dimensionamento de pessoal inadequado para atender a demanda causa desgaste emocional e mental, pois, as formas como são estruturados e ou divididos os trabalhos, sobrecarregam o cotidiano dos profissionais.
- Inadequação dos recursos físicos – área física inadequada, falta de materiais e equipamentos necessários à prestação de assistência com qualidade
- Despreparo dos enfermeiros – muitos profissionais, por não terem sido devidamente preparados, desenvolvem a supervisão parcialmente, assumindo-a como instrumento de controle e poder e não como ferramenta educativa.
- Falta de compreensão do verdadeiro significado de supervisão – vários problemas organizacionais causam frequentes situações chamadas de “incêndios” e as atividades desenvolvidas constantemente para “apagá-los” impedem o planejamento de ações mais eficazes.
- Desmotivação para aprofundar os conhecimentos de gestão – desde a graduação os estudantes não demonstram muito interesse em aprender a gerenciar ou supervisionar, pois preferem conhecimentos clínicos e técnicos e, na vida profissional, outros aspectos tornam-se prioridades, ficando este relegado à segundo plano.
Nóbrega concorda com o que foi posto e diz: os próprios estudantes, durante a graduação em Enfermagem, predominantemente não demonstram grande motivação para aprender a gerenciar. O que desperta o interesse nos campos de prática ainda continua sendo a técnica, o manuseio de equipamentos sofisticados (tecnologia dura), os processos patológicos, o tratamento da doença ratificando o predomínio do modelo biomédico.
Mesmo passando as informações sobre o modelo mais adequado de supervisão durante as aulas, encontro, com frequência, profissionais que foram alunos e que refletiram em conjunto sobre esses aspectos, adotando posturas centralizadoras e autoritárias e, consequentemente, fragilidade no desempenho dessa função. Me pergunto várias vezes: o que causou este tipo de comportamento?
Doutora em Ciências (EEUSP), pós-graduada em Administração Hospitalar (UNAERP) e Saúde do Adulto Institucionalizado (EEUSP), especialista em Terapia Intensiva (SOBETI) e em Gerenciamento em Enfermagem (SOBRAGEN). É professora titular da Universidade Paulista no Curso de Enfermagem, e professora do Programa de Especialização Lato-sensu em Enfermagem em Terapia Intensiva e Enfermagem do Trabalho na Universidade Paulista.