Escrevo sobre esse assunto porque vejo, constantemente, o uso indevido de métodos de avaliação de nível de consciência e sedação. Várias vezes presenciei alguém perguntando “Qual é o Glasgow desse paciente? ” e alguém respondendo “3”, sendo que o paciente estava entubado e sedado.
O paciente sedado encontra-se em um estado de depressão do nível de consciência, induzido por fármacos, com perda total ou parcial da responsividade aos estímulos externos de acordo com as doses administradas.
A sedação contínua é importante para obter maior sincronia do paciente com o ventilador mecânico, para evitar o aumento no consumo de oxigênio pelo miocárdio, para prevenir extubação acidental, para proporcionar descanso para a musculatura respiratória, satisfazer as necessidades amnestésicas e ansiolíticas, entre outros.
A escala de Glasgow não foi desenvolvida para avaliar escores de sedação, mas sim para verificar o funcionamento cerebral.
Para avaliação do paciente sedado podem ser utilizadas as escalas de Ramsay e Richmond.
Escala de Glasgow – Glasgow Coma Scale (GCS)
É um método de avaliação do comprometimento do nível de consciência, com três parâmetros (resposta ocular, resposta verbal e resposta motora) e score em pontos de 3 a 15, sendo que o total de 15 pontos indica condição neurofisiologicamente normal.
Escala de Glasgow – Glasgow Coma Scale (GCS)
Parâmetros | Resposta Observada | Pontuação |
Abertura Ocular | Espontânea | 4 |
Com estímulo verbal | 3 | |
Com estímulo doloroso | 2 | |
Nenhuma | 1 | |
Melhor Resposta Verbal | Orientado | 5 |
Confuso | 4 | |
Palavras impróprias | 3 | |
Sons incompreensíveis | 2 | |
Nenhuma | 1 | |
Melhor Resposta Motora | Obedece aos comandos | 6 |
Localiza e retira o estímulo | 5 | |
Localiza o estímulo | 4 | |
Responde em flexão | 3 | |
Responde em extensão | 2 | |
Nenhuma | 1 |
Escala de Ramsay
É um método de avalição do nível de sedação. O escore baseia-se em critérios clínicos para classificar o nível de sedação, seguindo a numeração de 1 a 6 para graduar a ansiedade e/ou agitação.
Escala de sedação de Ramsay
1 | Ansioso, agitado ou inquieto |
2 | Cooperativo, orientado e tranquilo |
3 | Sedado, porém responde às ordens verbais |
4 | Sedado, com resposta rápida ao leve estímulo glabelar ou forte estímulo auditivo |
5 | Sedado, com resposta lenta ao leve estímulo glabelar ou forte estímulo auditivo |
6 | Nenhuma |
Escala de Richmond – Richmond Agitation Sedation Scale (RASS)
Foi validada para pacientes críticos. Apresenta como vantagem sobre a escala de Ramsay a graduação do nível de agitação e ansiedade. Tem quatro níveis de agitação graduados de forma crescente, e mais cinco níveis de sedação graduados de um a cinco negativos. A parte negativa da escala é equivalente ao proposto pela escala de Ramsay, enquanto que os escores positivos discriminam graus de agitação que vão de inquieto a combativo (agressivo).
Escala de Richmond (RASS)
Escore | Termos | Descrição |
+4 | Combativo | Francamente combativo, violento, levando a perigo imediato da equipe de saúde |
+3 | Muito agitado | Agressivo, pode puxar tubos e cateteres |
+2 | Agitado | Movimentos não intencionais frequentes, briga com o respirador (se estiver em ventilação mecânica) |
+1 | Inquieto | Ansioso, inquieto, mas não agressivo |
0 | Alerta e calmo | |
-1 | Torporoso | Não completamente alerta, mas mantém olhos abertos e contato ocular ao estímulo verbal por aproximadamente 10 segundos |
-2 | Sedado leve | Acorda rapidamente, e mantém contato ocular ao estímulo verbal por menos de 10 segundos |
-3 | Sedado moderado | Movimento ou abertura dos olhos, mas sem contato ocular com o examinador |
-4 | Sedado profundamente | Sem resposta ao estímulo verbal, mas tem movimentos ou abertura ocular ao estímulo tátil/físico |
-5 | Coma | Sem resposta aos estímulos verbais ou exame físico |
O manejo da sedação requer o acompanhamento de parâmetros essenciais para detectar e quantificar a sedação e a agitação. No paciente crítico a mensuração e avaliação constante desses parâmetros promove um rigoroso acompanhamento da evolução e resposta ao tratamento.
A monitorização neurológica objetiva a prevenção ou a detecção precoce de eventos que podem desencadear lesões cerebrais secundárias ou agravar as lesões existentes. É um grande desafio para toda a equipe multidisciplinar, mas é por meio dela que se torna possível obter dados confiáveis e necessários para o tratamento.
O atendimento à pacientes neurológicos exige um grande conhecimento por parte dos profissionais, que devem estar atentos para minimizar riscos desnecessários e oferecer a qualidade exigida nas ações essências para a recuperação.
Doutora em Ciências (EEUSP), pós-graduada em Administração Hospitalar (UNAERP) e Saúde do Adulto Institucionalizado (EEUSP), especialista em Terapia Intensiva (SOBETI) e em Gerenciamento em Enfermagem (SOBRAGEN). É professora titular da Universidade Paulista no Curso de Enfermagem, e professora do Programa de Especialização Lato-sensu em Enfermagem em Terapia Intensiva e Enfermagem do Trabalho na Universidade Paulista.