Jovem, 16 anos, acompanhada pelo pai, deu entrada no ambulatório para consulta médica. Refere intenso ardor ao urinar, sensação de urgência e aumento da frequência urinária, que interfere no padrão de sono. Nega dor lombar, comorbidades e tratamento medicamentoso.
História
- Relata hábito de retardar a micção quando está ocupada
- Estima ingestão hídrica inferior a 800 ml/dia
Exame físico
- Abdominal: plano, flácido, mas, doroloso na região suprapúbica
- Ruídos hidroaéreos (RHA) presentes
- PA = 110 x 70mmHg
- FC = 102 bpm
- FR = 20 ipm
- T = 36,8 o. C
- Demonstra irritabilidade e inquietação
Hipótese diagnóstica
- Infecção do trato urinário: cistite bacteriana
Exames realizados
Laboratoriais:
- Urinálise: leucocitúria
- Urocultura: Escherichia Coli
Imagem:
- USG de vias urinárias: sem alterações
Analisando
A infecção de trato urinário é o termo utilizado para descrever colonização por agentes infecciosos, com invasão tecidual, em qualquer parte do trato urinário. A cistite bacteriana é a síndrome clínica caracterizada por resposta inflamatória do urotélio vesical à invasão bacteriana.
Em cerca de 80% dos casos de ITU, o agente etiológico encontrado é a Escherichia Coli
A incidência é maior em mulheres, uma vez que a uretra (via de acesso comum para a entrada de micro-organismos na bexiga) tem trajeto relativamente curto e reto. Bactérias provenientes da flora intestinal e da área genital colonizam a região periuretral, ascendem pela uretra e alcançam a bexiga, onde podem proliferar e invadir o tecido vesical.
Sinais e sintomas
- Disúria – dor e ardor à micção
- Polaciúria – micção frequente
- Urgência urinária – vontade imperiosa de urinar
- Dor suprapúbica
- Odor forte na urina
Alguns diagnósticos de enfermagem
- Dor aguda (experiência sensorial e emocional desagradável que surge de lesão tecidual real ou potencial com duração de menos de seis meses) caracterizada por dor suprapúbica relacionada ao processo inflamatório do urotélio vesical
- Eliminação urinária prejudicada (disfunção na eliminação da urina) caracterizada por disúria, polaciúria e urgência urinária relacionada ao processo inflamatório do urotélio vesical
- Padrão de sono prejudicado (Interrupções da quantidade e da qualidade do sono, limitadas pelo tempo, decorrentes de fatores externos) caracterizado por relato verbal de mudança no padrão normal de sono devido à polaciúria e à urgência urinária
- Conforto prejudicado (Falta percebida de sensação de conforto, alívio e transcendência nas dimensões física, psicoespiritual, ambiental, cultural e social) caracterizado por padrão de sono perturbado, dor, inquietação, relacionado aos sintomas (ardor, dor) e falta de controle da situação
- Ansiedade (vago e incômodo sentimento de desconforto ou temor, acompanhado por resposta autonômica; sentimento de apreensão causada pela antecipação de perigo) caracterizado pela inquietação, irritabilidade e urgência urinária relacionada à exposição a toxinas e às necessidades não satisfeitas
Terapia medicamentosa
- Antibióticos – tratar o quadro infeccioso
- Analgésicos – minimizar as manifestações dolorosas
Atuação do enfermeiro
- Avaliar a intensidade e característica da dor
- Avaliar os resultados dos exames laboratoriais
- Avaliar sinais de comprometimento do trato urinário superior (dor lombar, hipertermia, astenia, náuseas e vômitos)
- Orientar o paciente a ingerir corretamente as doses prescritas de medicamentos, mesmo se houver alívio rápido dos sintomas
- Estabelecer um plano que vise a modificação de hábitos que possam propiciar a entrada de bactérias no trato urinário e a invasão tecidual
- Ensinar práticas de higiene pessoal, incluindo a higiene íntima no sentido ântero-posterior do períneo – evita a migração de bactérias da região anal para a região periuretral
- Orientar quanto ao aumento da ingesta hídrica para 1,5 a 2 litros de líquido por dia – contribui para a lavagem vesical e dificulta a aderência da bactéria ao tecido vesical
- Incentivar a micção com intervalos – evita a hiperdistensão que causa isquemia da mucosa vesical e estase urinária, contribuindo para a proliferação de micro-organismos
- Orientar que os sintomas são temporários a fim de tranquilizar o paciente
Doutora em Ciências (EEUSP), pós-graduada em Administração Hospitalar (UNAERP) e Saúde do Adulto Institucionalizado (EEUSP), especialista em Terapia Intensiva (SOBETI) e em Gerenciamento em Enfermagem (SOBRAGEN). É professora titular da Universidade Paulista no Curso de Enfermagem, e professora do Programa de Especialização Lato-sensu em Enfermagem em Terapia Intensiva e Enfermagem do Trabalho na Universidade Paulista.