Os perigos da Vigorexia

Hoje abordo um distúrbio que tem se espalhado, principalmente, entre os jovens, devido à forte pressão da sociedade e das mídias, no estabelecimento de padrões de estrutura corporal e beleza das pessoas.

Esses padrões de perfeição corporal, uma vez estabelecidos e divulgados, são muitas vezes inatingíveis. E muitas pessoas que não conseguem atingi-los acabam se sentindo excluídas, ou inferiores.

Definição

A busca incessante para alcançar a estrutura corporal desejada ou a aparência “ideal” e a vontade de ser aceito, podem acarretar distúrbios de imagem corporal, entre eles a Vigorexia, também conhecida como Dismorfia Muscular ou Anorexia Nervosa Reversa.

As pessoas acometidas por esse transtorno alimentar se percebem “fracas” e “pequenas”, ao contrário do que realmente são, pois apresentam desenvolvimento muscular acima da média, graças à prática excessiva de exercícios físicos e com excesso de peso, dietas restritivas, hiperproteicas, hiperglicídicas, hipolipídicas, suplementos proteicos e uso de esteróides anabolizantes, e não se importam com as consequências.

Pensamentos como “quanto mais melhor”, “enquanto aguentar”, “chegando no meu limite” e comportamentos como os descritos acima podem levar a pessoa a prejuízos socioculturais, ocupacionais e na saúde e bem-estar.

Características da Vigorexia

A Vigorexia é caracterizada por:

  • Alteração na percepção da autoimagem
  • Prática excessiva de exercícios físicos
  • Preocupação obsessiva com imperfeições no corpo
  • Adoção de práticas alimentares não convencionais
  • Uso abusivo de substâncias como esteroides anabolizantes, hormônio do crescimento, insulina, anfetaminas, entre outros
  • Uso de recursos ergogênicos – suplementos alimentares

Aspectos psicológicos: costumam se olhar no espelho inúmeras vezes por dia e fazem checagens frequentes dos ganhos musculares obtidos.

Aspectos psicossociais: considerado transtorno obsessivo compulsivo, tanto pela obsessão em musculatura, quanto pela compulsão aos exercícios físicos e imagem distorcida do corpo.

Aspectos nutricionais: dietas hiperproteicas, hipolipídicas, acompanhadas de diversos suplementos alimentares, principalmente daqueles à base de aminoácidos e proteínas.

Esteróides Anabolizantes Androgênicos (EAA): derivados sintéticos da testosterona, são utilizados para o tratamento e controle de diversas doenças como AIDS, anemias, cirrose hepática, câncer, entre outras. Inicialmente, seu uso terapêutico restringia-se ao tratamento de pacientes queimados, imunodeprimidos, no pós-operatório de cirurgias de grande porte e também para restaurar ou restabelecer o peso corporal, como foi feito com os sobreviventes dos campos de concentração durante a 2ª Guerra Mundial. Mesmo em dosagens terapêuticas podem ocorrer efeitos colaterais, o que requer análise do risco-benefício. Entretanto, a maioria dos efeitos colaterais advém do uso indiscriminado, abusivo e não terapêutico por pessoas que tem o objetivo de melhorar o desempenho esportivo e estético, com dosagens que costumam ultrapassar a dose terapêutica em até 100 vezes. (ABRAHIN, 2013)

Objetivo do uso dos EAA: acelerar mais o processo de síntese de proteína no organismo, maximizando ainda mais o ganho de hipertrofia muscular.

Efeitos colaterais

Alterações dermatológicas:

  • Ocorrência de acne e cravos
  • Surgimento de estrias 

Musculoesqueléticas:

  • Déficit de crescimento (fechamento prematuro das epífises)
  • Risco de lesões musculotendíneas

Endócrinas:

  • Ginecomastia (aumento das glândulas mamárias em homens)
  • Alterações na libido (aumento ou diminuição do desejo sexual)
  • Impotência
  • Infertilidade
  • Aumento da quantidade de pelos no corpo
  • Resistência à insulina
  • Disfunções da glândula tireoide
  • Calvície

Geniturinárias (masculinas):

  • Oligospermia (diminuição do número de espermatozóides) ou Azoospermia (ausência de espermatozóides na ejaculação) por inibição da secreção de gonadotrofina
  • Atrofia testicular
  • Hiperplasia prostática (aumento da próstata)
  • Atrofia dos testículos
  • Ereção dolorosa e contínua (priapismo)

Geniturinárias (femininas):

  • Alterações dos ciclos menstruais por redução do hormônio luteinizante, hormônio folículo-estimulante, dos estrogênios e da progesterona
  • Masculinização – engrossamento da voz e aumento de pelos no corpo no padrão de distribuição masculino.
  • Hipertrofia do clitóris

Cardiovasculares:

  • Alterações no perfil lipídico – risco para doenças coronarianas
  • Hipertensão arterial
  • Hipertrofia do ventrículo esquerdo – diminuição da função miocárdica e presença de arritmias levando à morte súbita

Hepáticas:

  • Risco aumentado de tumores
  • Hepatomegalia (aumento do tamanho do fígado) por aumento dos níveis de marcadores enzimáticos de toxicidade como Alanina Aminotransferase (ALT) e Aspartato Aminotransferase (AST)
  • Adenoma hepatocelular (tumor de origem epitelial)
  • Esteatose hepática (depósito de gordura nas células do fígado)
  • Hepatite medicamentosa 

Alterações psicológicas:

  • Manias
  • Sintomas depressivos – pela abstinência
  • Alterações de humor – irritabilidade
  • Comportamento agressivo
  • Euforia
  • Ansiedade
  • Insônia
  • Ataques de fúria

Recursos ergogênicos

São meios ou mecanismos de realizar uma atividade com menor gasto de energia, podendo ser fisiológicos, nutricionais, biomecânicos, psicológicos ou farmacológicos.

Objetivo do uso de ergogênicos: elevar a performance atlética e qualificar os resultados físicos, eliminando os sintomas de fadiga, por meio de suplementos energéticos, hidroeletrolíticos, proteicos, entre outros.

Efeitos colaterais

  • Náuseas e vômitos
  • Pirose retroesternal
  • Diarreia
  • Cólica abdominal
  • Perda de apetite
  • Sangramento
  • Aceleração dos movimentos intestinais

Se os EAA têm tantos efeitos colaterais, por que as pessoas continuam usando?

Primeiro, por falta de conhecimentos sobre o assunto e influência da mídia. Segundo, para acelerar o processo, conforme explica o especialista em morfologia com ênfase em anatomia da Universidade Estadual de São Paulo – Carlos Alberto Anaruma:“uma pessoa que se submete a um treino e a uma alimentação equilibrada para buscar ganho de massa muscular, geralmente alcança sua meta num espaço de tempo de dois anos. Com o anabolizante, esse tempo cai para três meses, mas os efeitos danosos podem ficar no corpo para o resto da vida”.

Tratamento

  • Assistência da equipe multidisciplinar – médico endocrinologista (monitorar e corrigir taxas hormonais), nutricionista (elaborar uma dieta balanceada), educador físico (traçar treinos adequados), psicólogo (terapias)
  • Terapia cognitivo-comportamental (TCC) – busca identificar as condições que favorecem a alteração comportamental como crenças, sentimentos, etc.
  • Terapia com medicamentos antidepressivos ou ansiolíticos

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Referências

ABRAHIN OSC, SOUSA EC. Esteroides anabolizantes androgênicos e seus efeitos colaterais: uma revisão crítico-científica. Rev. Educ. Fis/UEM, v. 24, n. 4, p. 669-679, 4. trim., 2013.

LIMA AP, CARDOSO FB. Alterações fisiológicas e efeitos colaterais decorrentes da utilização de esteroides anabolizantes androgênicos. Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 9, nº 29, jul/set., 2011.

SOUSA MPS, SANTOS AC. As contribuições da fisioterapia no tratamento da vigorexia. Rev. Inic. Cient.e Ext. 2018,Jan-Jun;1(1):38-44.

OLIVEIRA LL, DEIRO CP. Terapia cognitivo-comportamental para transtornos alimentares: a visão de psicoterapeutas sobre o tratamento. Rev. Bras. Ter. Comport. Cogn. vol.15 no.1 São Paulo abr, 2013.

PEREIRA LP.Utilização de recursos ergogênicos nutricionais e/ou farmacológicos em uma academia da cidade de Barra do Piraí, RJ.Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, São Paulo. v. 8. n. 43. p.58-64. Jan/Fev., 2014.

CUNHA TS, CUNHA NS, MOURA MJCS, MARCONDES FK. Esteróides anabólicos androgênicos e sua relação com a prática desportiva. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, vol. 40, n. 2, abr./jun., 2004.

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