Hoje abordo um assunto sobre o qual tenho uma experiência pessoal intensa. Infelizmente, vivenciei seis anos dessa doença com a minha mãe. Muito sofri e chorei.
Definição
A doença de Alzheimer (DA) é uma doença neurodegenerativa, progressiva e, até o momento (2020), irreversível. Acomete múltiplas funções corticais, incluindo memória, pensamento, compreensão e linguagem, sendo que a deficiência das habilidades cognitivas é comumente acompanhada pela perda de controle emocional, do comportamento social e da motivação (OPAS, 2013).
A demência da doença de Alzheimer corresponde a 60% dos quadros demenciais, sendo a mais prevalente no mundo todo. Atualmente, 35,6 milhões de pessoas são portadoras da doença e a estimativa é de que esse número dobre a cada 20 anos, chegando a 65,7 milhões em 2030. (Wimo, Winbland, Jonsson, 2010)
Dados neuropatológicos
- Presença de atrofia cortical difusa
- Degeneração neurovascular
- Perdas neuronais e sinápticas no hipocampo e áreas corticais: córtex cerebral e o entorrinal
- Placas neuríticas compostas de agregados filamentosos da proteína β-amiloide
- Toxicidade neuronal pelas fibras amilóides, agregadas ao zinco e cobre
- Emaranhados neurofibrilares intraneurais, formados, principalmente, pela proteína tau
- Disfunção colinérgica nas áreas de projeção frontais, parietais e temporais
Hipóteses etiológicas
- Teoria genética
- Teoria infecciosa
- Teoria tóxica
- Teoria patogênica
Fatores de risco
- Idade
- Traumatismo craniano
- Baixa escolaridade
- Hiperlipidemia
- Hipertensão arterial
- Diabetes Mellitus
- Fator genético
Diagnósticos
Clínico/ Neuropsicológico:
- História clínica obtida do familiar ou cuidador, associada ao exame clínico e neurológico a fim de identificar déficits focais, como parestesias, paresias, alteração da marcha, incontinência urinária e intestinal, alterações na motricidade, tremores, entre outras manifestações
- Exclusão de outras causas de demência
- Testes de rastreio cognitivo: MEEM (Mini-Exame do Estado Mental), teste do relógio, teste de fluência verbal e a Escala de Demência de Blessed
- Sinais objetivos de deterioração da memória
Exames de imagem:
- Tomografia Computadorizada (TC)
- Ressonância Magnética (RM)
Manifestações clínicas gerais
- Perda de memória recente – perda gradual da memória
- Declínio no desempenho para tarefas cotidianas
- Diminuição do senso crítico
- Desorientação temporal e espacial
- Mudança na personalidade
- Dificuldade no aprendizado
- Dificuldades na área da comunicação
Estágios da doença – (VALIM et al, 2010)
Fase inicial
A fase inicial dura de dois a quatro anos, apresentando perda de memória recente e influi diretamente nas atividades de vida diária (AVD).
Algumas características:
- Distração
- Esquecimento frequente
- Dificuldade em lembrar nomes/palavras/datas/
- Frases mais curtas
- Dificuldade em aprender novas informações
- Tendência ao isolamento
- Alteração do humor
- Redução nas atividades sociais dentro e fora de casa
Fase intermediária
A fase intermediária varia de dois a dez anos, há progressiva perda de memória e começo das dificuldades das palavras, motoras e julgamento, com mudanças de personalidade e perda do senso crítico.
Algumas características:
- Perda das habilidades cognitivas
- Perda acentuada da memória recente
- Deterioração das habilidades verbais
- Repetição da mesma frase durante horas
- Incompreensão de acontecimentos novos
- Diminuição do conteúdo e da variação da fala
- Coordenação motora e movimentação lenta
- Aumento de distúrbios comportamentais
- Agressividade
- Medos injustificáveis
- Possível surgimento de fenômenos psicóticos
Fase terminal
A fase terminal é caracterizada por limitação ao leito, silêncio, e não reconhecimento de seus familiares e amigos, podendo apresentar distúrbios graves de linguagem, estado vegetativo e encolhimento em posição fetal, devido às contraturas.
Algumas características:
- Fala monossilábica, que após um tempo desaparece
- Perda da memória recente e passada
- Sintomas psicóticos transitórios
- Falta de raciocínio
- Perda do controle vesical e intestinal
- Dificuldade de deglutir
- Marcha arrastada
- Torna-se acamado
- Movimentos involuntários
Desde a fase inicial até a morte do paciente, a duração média da doença é entre 7 a 10 anos
Tratamento farmacológico
Até o momento, não há cura para a DA. Porém, alguns medicamentos vêm sendo utilizados.
Para o comprometimento cognitivo:
Inibidores de colinesterase, que promovem benefício em relação à cognição, função e comportamento:
- Rivastigmina
- Donepezil
- Galantamina
- Memantina
Para o comprometimento comportamental e psicológico:
Neurolépticos, que aliviam a agitação, agressão física, comportamentos violentos, hostilidade, alucinações e delírios:
- Haloperidol
- Tioridazina
- Risperidona
- Clozapina
- Quetiapina
Estabilizadores de humor, que controlam os comportamentos agitados:
- Carbamazepina
- Ácido valpróico
Antideopressivos, que combatem a depressão:
- Trazodona
- Amitriptilina
- Fluoxetina
Tratamento não farmacológico
- Atividades de estimulação cognitiva e social
- Tarefas prazerosas e compatíveis com as limitações
- Atividades físicas e fisioterapia
- Toque terapêutico
- Musicoterapia
A DA não afeta apenas o portador da doença, mas toda a família, em especial a pessoa que assume o cuidado que, na maioria das vezes, abdica da sua vida social em prol do cuidado ao familiar.
Referências
OPAS – ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD. Demencia: una prioridad de salud pública. Washington, DC, 2013
Wimo A, Winblad B, Jönsson L. The worldwide societal costs of dementia: estimates for 2009. Alzheimers Dement 2010; 6:98-103
Falco A, Cukierman DS, Hauser-Davis RA, Rey NA. Doença de Alzheimer: hipóteses etiológicas e perspectivas de tratamento. Quím. Nova vol.39 no.1 São Paulo Jan. 2016
Valim MD et al. A doença de Alzheimer na visão do cuidador: um estudo de caso. Revista Eletrônica de Enfermagem, São Paulo, v. 12, n. 3, p. 528-34, out. 2010
Engelhardt E et al. Tratamento da doença de Alzheimer: recomendações e sugestões do Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia. Arq. Neuropsiquiatria, 2005, 63(4):1104-1112
Doutora em Ciências (EEUSP), pós-graduada em Administração Hospitalar (UNAERP) e Saúde do Adulto Institucionalizado (EEUSP), especialista em Terapia Intensiva (SOBETI) e em Gerenciamento em Enfermagem (SOBRAGEN). É professora titular da Universidade Paulista no Curso de Enfermagem, e professora do Programa de Especialização Lato-sensu em Enfermagem em Terapia Intensiva e Enfermagem do Trabalho na Universidade Paulista.