Olá pessoal.
Há muito anos venho presenciando e tomando ciência, pelos canais midiáticos, da falta de condições adequadas para o descanso dos profissionais de enfermagem em regime de plantão de 12 horas.
Nos locais de descanso, onde deveriam estar camas, encontram-se colchões e papelões (isso mesmo que você leu: papelões) pelo chão, além da falta de condições térmicas adequadas. E isso ocorre em instituições com locais destinados para esse fim. Imagine nas instituições que não oferecem locais para repouso ou alimentação.
A Norma Regulamentadora 32 (NR32), de 2005, do Ministério do Trabalho, estabelece as diretrizes básicas para a implementação de medidas de proteção à segurança e à saúde dos trabalhadores dos serviços de saúde e aponta que as instituições devem atender as condições de conforto térmico previstas na RDC50/02 da ANVISA.
É sabido que, quando a necessidade de recuperação das energias físicas e mentais não é atendida, a produtividade baixa de forma vertiginosa e a exposição a doenças ocupacionais e acidentes de trabalho aumenta.
As necessidades fisiológicas estão descritas na base da Pirâmide de Maslow e se referem as necessidades de sobrevivência, entre elas, fome, sede, sono, entre outros.
O cansaço e o sono, às vezes, acontecem contra a nossa vontade. O sono se dá pela produção do hormônio melatonina (neuro-hormônio produzido pela glândula pineal que influi sobre o ciclo sono-vigília) frente às condições indutoras do sono, como a diminuição ou ausência de luz, durante o período noturno (pico entre 2:00 e 3:00) e pós-prandial, pela ingestão de carboidratos, (pico entre 14:00 e 15:00) onde a produção da melatonina aumenta. (Alves Jr, 2010)
Portanto, o descanso, apenas duas horas de sono, ajuda a regular o sistema imunológico, o sistema hormonal e a recompor os neurotransmissores. Além disso, melhora a vigília (atenção), o raciocínio, o humor e, consequentemente, a produtividade.
Na enfermagem, devido à natureza das atividades, é frequente que os trabalhadores, principalmente os enfermeiros, deixem de usufruir do horário de descanso, devido a demanda de ações que não podem ser interrompidas, como por exemplo, a atuação em situações de urgência e emergência.
Vale ressaltar que os profissionais devem agir com responsabilidade e ética para usufruir do descanso, não abandonando deliberadamente o plantão, uma vez que suas ações consistem em zelar pela vida dos pacientes e que o agir de forma imprudente pode culminar em forte e irreversível prejuízo aos mesmos.
Da mesma maneira que outros profissionais, para exercer a profissão com honra e dignidade, têm direito a remuneração justa e condições de trabalho adequadas, e isso inclui condições para o descanso intrajornada, o enfermeiro também deve beneficiar-se de pausas compensatórias e conforto para repouso, em ambiente específico, amplo, arejado, provido de mobiliário adequado e dotado de conforto térmico e acústico ajustado para o repouso e higiene pessoal.
As condições de trabalho e saúde das equipes de enfermagem têm sido denunciadas, constantemente, pelo mundo. Na maioria dos hospitais, a forma de trabalho é insalubre, inconcebível e contradiz todas as regras estabelecidas para ambientes saudáveis, levando os enfermeiros e a sua equipe ao esgotamento, causador de profissionais apáticos, cansados, estressados e desmotivados.
Entidades representantivas da profissão estão se mobilizando para assegurar esse direito a todos os profissionais de enfermagem, e quando isso estiver realmente em vigor, os profissionais terão direito a um ambiente com condições de trabalho adequadas e, consequentemente, melhor qualidade de vida, substituindo o estresse mental e físico pelo tão perseguido “bem-estar” no trabalho.
Ao longo dos anos a Enfermagem tem adquirido conhecimentos e princípios científicos para embasar a sua prática de assistir ao ser humano. Portanto, também, deve receber assistência para poder continuar a desempenhar o seu papel, indispensável para a promoção da saúde e recuperação da doença.
Afinal, é gente cuidando de gente.
Doutora em Ciências (EEUSP), pós-graduada em Administração Hospitalar (UNAERP) e Saúde do Adulto Institucionalizado (EEUSP), especialista em Terapia Intensiva (SOBETI) e em Gerenciamento em Enfermagem (SOBRAGEN). É professora titular da Universidade Paulista no Curso de Enfermagem, e professora do Programa de Especialização Lato-sensu em Enfermagem em Terapia Intensiva e Enfermagem do Trabalho na Universidade Paulista.