Sinal fechado e vem uma ambulância. E agora?

Olá pessoal.

Hoje quero abordar um assunto que me causou indignação e gostaria de ouvir a opinião de vocês a respeito.

No final do ano passado estava parada em um semáforo, quando uma ambulância surgiu atrás, com luzes e sirene ligadas, pedindo passagem.  Como eu estava na primeira fila do semáforo, avancei um pouco sobre a faixa de pedestres, para permitir a passagem da ambulância.

Dias depois, recebi uma multa com a seguinte descrição: Infração: parar sobre a faixa de pedestre – mudança de sinal luminoso (faixa eletrônica).

Iniciei o processo de recurso para o cancelamento da multa, com a consequente revogação dos pontos do prontuário, uma vez que constituiu-se uma infração insubsistente, e alegando que avancei um pouco sobre a faixa de pedestres unicamente para dar passagem a uma ambulância.

Como profissional da saúde, me baseei no preceito de que qualquer veículo em situação de emergência, desde que esteja devidamente sinalizado com luzes e sinais sonoros, tem prioridade de passagem até nos semáforos fechados, conforme o Art. 29 CTB – O trânsito de veículos nas vias terrestres abertas à circulação obedece a várias normas, entre elas:

VII – os veículos destinados a socorro de incêndio e salvamento, os de polícia, os de fiscalização e operação de trânsito e as ambulâncias, gozam de livre circulação, estacionamento e parada, quando em serviços de urgência e devidamente identificados por dispositivos regulamentares de alarme e iluminação, observada a seguinte disposição:

1. c) o uso de dispositivos de alarmes sonoros e de iluminação vermelha intermitente só poderá ocorrer quando da efetiva prestação de serviço de urgência.

Ainda, segundo o Código de Trânsito Brasileiro, Art. 189, o fato de deixar de dar passagem aos veículos precedidos de batedores, de socorro de incêndio e salvamento, de polícia, de operação e fiscalização de trânsito e às ambulâncias, quando em serviço de urgência e devidamente identificados por dispositivos regulamentados de alarme sonoro e iluminação vermelha intermitentes, é considerada infração gravíssima com penalidade de multa.

Além disso, o fato poderia ser comprovado, facilmente, pela câmera de segurança, instalada poucos metros à frente do ocorrido. Justamente a câmera utilizada para fotografar meu carro e aplicar a multa.

Conclusão: pedido negado. Tomei a multa.

O que me indignou é que eu tenho certeza de que a mesma tecnologia utilizada para me multar poderia ser utilizada para analisar meu pedido de cancelamento. Ou seja, bastava a CET analisar as 3 ou 4 fotos batidas pela câmera, na sequência, e constataria que eu estava dando passagem para a ambulância. Mas não o fez.

Então, em função de fatos como esse, tenho ouvido de muita gente: “Não dou mais passagem, senão sou multado”.

Como profissional, afirmo que “Cada minuto é importante. Esse minuto que é perdido vai ser muito, muito importante para a vítima e ela pode ser um familiar seu”.

No artigo “Trânsito e desinformação dificultam socorro a vítimas”, de Claudiane Costa, publicado em 06/11/2014 no Portal PUC Rio Digital, a médica Raquel Piava Ribeiro, que atua como emergencista desde 2003, diz que o rápido atendimento pode ser decisivo: “Não existe pouco tempo quando o assunto é saúde. O tempo é vital mesmo para aquele indivíduo aparentemente sem complicações”.

A médica explica que uma parada cardíaca de cinco minutos num idoso de 90 anos tem muito menos chance de reversão do que uma de 20 num jovem de 25 anos. Isso exige rapidez na chegada do atendimento.

E para conseguir chegar com rapidez, todo esforço é válido, como aponta um dos socorristas da equipe, “se for para salvar uma vítima nós avançamos o sinal, subimos na calçada ou até pegamos a contramão. Já desci da ambulância e parei a outra rua para que ela pudesse passar no sinal fechado”.

Para que a população saiba a dimensão da gravidade do assunto, faz-se necessária a educação na saúde, pois são comuns comentários: “Ah, não tem ninguém na ambulância!”, só que essa mesma ambulância pode estar indo atender aquele velhinho dos cinco minutos de parada cardíaca.

A população não pensa que, se sofrer um acidente na rua, vai necessitar do atendimento rápido dessa ambulância para poder sobreviver e, às vezes, adota comportamentos inadequados, reclamando e agredindo os profissionais em serviço. Em relação à isso, Diego, outro profissional desse tipo de atendimento, diz que perdeu a conta das vezes em que foi xingado por forçar ultrapassagens ou fazer manobras arriscadas.

As falhas estruturais por falta de planejamento adequado nas vias da cidade, também dificultam o deslocamento das ambulâncias, mas as questões culturais são reveladas com mais intensidade.

Concordo com a médica quando diz que “a conscientização dos motoristas virá pela necessidade, quando passarem ou tiverem alguém importante passando por essa experiência. Ela menciona a campanha veiculada recentemente, em que pessoas fora da área de saúde acompanhavam atendimentos a vítimas de acidentes automobilísticos. “É chocante, mas eficaz. É preciso algo firme, pois comportamento é difícil de ser mudado”.

Mesmo não tendo a minha solicitação de cancelamento da multa atendida, continuarei a dar passagem para ambulâncias.

É uma questão de educação e de respeito ao próximo! Mas as autoridades de trânsito poderiam ser um pouco mais flexíveis: em vez de se concentrarem somente na geração de receitas com a indústria de multas que criaram, tem que nos dar a chance e os recursos adequados de defesa e contestação.

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