Logo após ter publicado o post com um caso clínico de tamponamento cardíaco (que você pode ler clicando aqui) recebi vários pedidos para escrever mais sobre a técnica da Pericardiocentese.
Apesar de ser um procedimento realizado pelo médico, o enfermeiro deve ter conhecimentos científicos para promover intervenções destinadas a prevenir ou tratar complicações.
Vamos relembrar
A parede do coração é constituída por três camadas:
- Epicárdio – camada fina, externa. É uma delgada lâmina de tecido seroso, contínua, a partir da base do coração, com o revestimento interno do pericárdio, denominado camada visceral do pericárdio seroso.
- Miocárdio– camada média muscular espessa. É um músculo estriado, cujo controle é involuntário, com fibras interligadas que se contraem e se relaxam de forma coordenada, impulsionando o sangue para o interior dos vasos sanguíneos.
- Endocárdio – camada interna, lisa, que entra em contato com o sangue. É formado por tecido epitelial pavimentoso simples sobre uma camada de tecido conjuntivo, que reveste o coração, as valvas e os grandes vasos.
O saco que o envolve o coração, chamado Pericárdio, é composto por duas membranas: uma fibrosa – externa (pericárdio fibroso)e outra serosa – interna (pericárdio seroso), as quais são separadas por um espaço virtual, chamado espaço pericárdico.
Conceito
Pericardiocentese é o procedimento realizado para a drenagem do fluído pericárdico (derrame).
Indicações
Está indicada quando o tamponamento cardíaco representa risco de vida imediato – provoca alterações hemodinâmicas (desconforto respiratório, hipotensão, estase jugular ou outros sinais de comprometimento circulatório) graves e crescentes.
Materiais necessários:
- Uma agulha com bisel curto, calibre mínimo 16 e comprimento de 9 cm
- Uma seringa de 30 ou 50 ml
- Um conector estéril para a derivação precordial
- Solução para preparo da pele
- Uma seringa com agulha de pequeno calibre e lidocaína a 1% sem epinefrina; para anestesia local
- Uma lâmina de bisturi
- Luvas e campos estéreis
- Paramentação completa, incluindo gorro e máscara
- Materiais e equipamentos para reanimação
Técnica
- Colocar o paciente em decúbito dorsal elevado a 30º a 45º – favorece o deslocamento da cavidade pericárdica para mais próximo da parede torácica
- Ofertar oxigênio
- Fazer antissepsia da porção média da face anterior do tórax com solução padronizada
- Fazer anestesia local (se paciente estiver consciente), infiltrando a pele e os tecidos subcutâneos à esquerda do esterno no quinto espaço intercostal, com lidocaína 1% sem epinefrina
- Realizar uma pequena incisão (de 2 a 3mm), com uma lâmina de bisturi, na pele abaixo e à esquerda do apêndice xifoide ou paraesternalmente (ao lado do esterno) no quinto espaço intercostal e introduzir uma agulha de maior calibre
Imagem 1 – Procedimento
- Unir a agulha à seringa e utilizar um conector para ligá-la ao cabo de derivações precordiais – possibilitando o acompanhamento eletrocardiográfico. O registro eletrocardiográfico durante o procedimento evita punções acidentais como laceração pleural e miocárdica. Deve-se ter à mão materiais e equipamentos para reanimação
- Introduzir a agulha conectada à seringa, perpendicularmente, ao plano frontal, com aspiração contínua
- À medida que a agulha avança, pode-se sentir a resistência do pericárdio tenso, e a penetração no espaço pericárdico pode produzir uma sensação de redução dessa resistência (“estalo”) e o líquido já começa a surgir. O contato da agulha com o epicárdio pode ser acompanhado pela elevação dos segmentos ST ou PR
- Pode ser inserido um cateter flexível intrapericárdico, com um guia e fluoroscopia, reduzindo as chances de lesões epicárdicas ou coronarianas produzidas pela agulha. Além disso, permite, também, a drenagem contínua de fluido, bem como a coleta de material para diagnóstico (ex. invasão linfomatosa do pericárdio)
Esse procedimento deve ser feito por médico experiente e, se possível, na unidade de hemodinâmica para utilizar a fluoroscopia e ecocardiograma.
Principais complicações
- Punção ou laceração de câmaras cardíacas ou artérias coronárias
- Arritmias cardíacas, incluindo fibrilação ventricular
- Parada cardiorrespiratória
- Injeção acidental de ar nas câmaras cardíacas
- Hemotórax e/ou pneumotórax
- Hemorragias
Referências
Imagem 1 adaptada de Medical Info
Doutora em Ciências (EEUSP), pós-graduada em Administração Hospitalar (UNAERP) e Saúde do Adulto Institucionalizado (EEUSP), especialista em Terapia Intensiva (SOBETI) e em Gerenciamento em Enfermagem (SOBRAGEN). É professora titular da Universidade Paulista no Curso de Enfermagem, e professora do Programa de Especialização Lato-sensu em Enfermagem em Terapia Intensiva e Enfermagem do Trabalho na Universidade Paulista.