A peritonite (inflamação do peritônio) é uma situação grave que, se não for tratada precoce e adequadamente, na maioria das vezes é fatal.
É importante abordarmos esse tema, pois a taxa de mortalidade global para a peritonite generalizada é de cerca de 40%. Entre os fatores que contribuem para essa alta taxa de mortalidade estão: tipo e duração da doença primária, associação de insuficiência de múltiplos órgãos, faixa etária e estado geral dos pacientes. (Doherty, 2017)
Relembrando
- O peritônio é uma membrana serosa que reveste a cavidade abdominal. Possui duas túnicas: peritônio parietal e peritônio visceral.
- Contém, em condições normais, aproximadamente 50 ml de transudato estéril (líquido claro e viscoso) produzido sob a forma de ultrafiltrado do plasma.
- O líquido peritoneal protege a cavidade abdominal e reduz o atrito entre os órgãos.
- Pode acompanhar o relevo dos órgãos ou pode formar LIGAMENTOS (lâmina entre órgão e parede)
- Defende a integridade dos órgãos
- Permite a livre movimentação das alças intestinais
- Promove resistência a possíveis infecções e armazenamento de gordura.
- Os macrófagos existentes no líquido peritoneal fornecem resistência a infecção e, também, são capazes de confinar a infecção.
- O acúmulo de gordura contido no peritônio atua como reserva nutricional.
- É capaz de absorver e eliminar substâncias (circulação). Por esse motivo, é utilizado em terapias dialíticas (diálise peritoneal, administração de medicamentos), mas também, absorve toxinas bacterianas nos casos de infecções.
- O peritônio é muito sensível. Quando traumatizado ou distendido provoca dores intensas, pois o peritônio parietal é inervado pelos pelos nervos frênicos, nervos toraco-abdominais e ramos do plexo lombo-sacral.
Definição
Inflamação do peritônio. Quando há somente congestão do peritônio usa-se a expressão “reação peritoneal” e quando há exsudato “peritonite”.
Causas
- Presença de germes
- Presença de substâncias químicas irritantes
- Presença de corpos estranhos
Classificação
Quanto ao tipo de evolução
- Aguda – início súbito – ex.: perfuração de um órgão
- Crônica – longa duração – ex.: doença inflamatória pélvica
Quanto à extensão
- Localizada – bloqueada – fonte contaminante de instalação lenta – maiores chances de bloqueio
- Difusa – generalizada – todo o abdome – contaminação rápida e maciça
Quanto a patogenia
- Séptica – causada por perfuração de vísceras ôcas; úlceras gastrointestinais perfuradas; perfuração vesicular; neoplasias perfurativas; perfurações por corpo estranho; ruptura de órgãos maciços; abscessos hepáticos, esplênicos e retroperitoniais; apendicite aguda; ferimentos e contusões abdominais; pancreatite e colecistite agudas, peritonite pós-operatória, entre outras.
A peritonite bacteriana espontânea (PBE) é uma infecção frequente que acomete os pacientes com cirrose e ascite, determinando mau prognóstico, tanto a curto quanto a longo prazo. As bactérias tendem a invadir o líquido peritoneal, devido à baixa filtração hepática na cirrose.
- Asséptica – causada por agentes físico-químicos, tem característica irritativa, não havendo supuração. Ex.: presença de conteúdos assépticos normais (bile, sangue, enzimas pancreáticas, urina) ou anormais (cisto de ovário, linfático); por substâncias irritantes /cáusticas (sulfa, talco de luvas cirúrgicas, antissépticos por via vaginal); pelo ar, na exposição cirúrgica prolongada ou na introdução do ar na cavidade peritoneal para efeito diagnóstico ou terapêutico, entre outros
Quanto à origem
- Primária – o agente bacteriano alcança o peritônio por via hematogênica ou linfática – peritonites espontâneas
- Secundária – ocorrem após perfurações do tubo gastrointestinal – ulceras gastroduodenais, tumores de vísceras abdominais, necroses por volvo, diverticulite, entre outras
Manifestações clínicas
- Dor abdominal
- Febre
- Íleo paralítico
- Náuseas e vômitos
- Ausência de ruídos hidroaéreos
- Distensão abdominal
- Rigidez na parede abdominal
- Descompressão brusca dolorosa (Sinal de Blumberg)
- Contratura reacional da musculatura do abdome
- Leucocitose
- Hipotensão, taquicardia, icterícia, acidose metabólica e choque – casos mais graves
Diagnóstico laboratorial
- Hemograma com plaquetas, eletrólitos, coagulograma
- Gasometria arterial
- Amilasemia
- Provas de função hepática e renal
- Cultura e antibiograma do sangue, urina, secreções respiratórias, feridas, líquido intra-abdominal
Diagnóstico por imagem
- Radiografia simples
- USG de abdome
- Tomografia
- Ressonância Magnética
- Arteriografia
- Cintilografia
- Laparoscopia
Tratamento
- Hidratação
- Correção dos distúrbios eletrolíticos
- Antibioticoterapia
- Remoção cirúrgica da causa – eliminar a fonte de infecção e reduzir o contaminante peritoneal, evitando assim a peritonite continuada.
Referências
- Kasper DL, Fauci AS. Doenças infecciosas de Harrison. 2ª. ed. Artmed, 2015.
- Lopes AC. Diagnóstico e tratamento, vol. 3, Barueri/SP: Manole, 2007.
- Doherty GM. Current: diagnóstico e tratamento. McGraw Hill Brasil, 2017
Doutora em Ciências (EEUSP), pós-graduada em Administração Hospitalar (UNAERP) e Saúde do Adulto Institucionalizado (EEUSP), especialista em Terapia Intensiva (SOBETI) e em Gerenciamento em Enfermagem (SOBRAGEN). É professora titular da Universidade Paulista no Curso de Enfermagem, e professora do Programa de Especialização Lato-sensu em Enfermagem em Terapia Intensiva e Enfermagem do Trabalho na Universidade Paulista.