No artigo de hoje vou abordar o quanto nós, profissionais da saúde, estamos expostos à poluição sonora no ambiente hospitalar.
Resolvi escrever sobre esse assunto porque o fato de estar em um ambiente com muitos ruídos, por muito tempo, me causa inquietação e irritabilidade. Experimento essa situação, principalmente, quando estou nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e, os alarmes soam continuamente.
No ambiente hospitalar, principalmente em UTI, emergências e salas cirúrgicas, há ruídos originários de várias fontes que compõe a poluição sonora, como ventiladores, bombas de infusão, monitores cardíacos, alarmes, campainhas, telefones, interfones.
Dentre os alarmes dos equipamentos, o do ventilador mecânico atinge 60 a 65 decibels (dB), o sistema de vácuo (utilizado para aspiração) alcança 50 a 60 dB e os monitores cardíacos 50 a 55 dB.
Em relação ao ambiente cirúrgico, as cirurgias otorrinolaringológicas produzem ruídos acima de 75 dB e as ortopédicas e neurológicas, ruídos que excedem 100 dB em aproximadamente 40% do tempo operatório. (Oliveira e Arenas)
Ruído
O ruído pode ser definido como qualquer perturbação vibratória em meio elástico que produz sensação auditiva (Merluzzi).
Pode-se dizer que o ruído é um som incômodo ou indesejado como por exemplo, buzinas, máquinas, trânsito, sirenes.
Tipos de ruído (Carvalho)
Quanto à frequência:
- Espectro contínuo, onde a energia sonora é distribuída por grande parte das frequências audíveis
- Espectro com poucos tons audíveis
- Predomínio de poucas frequências
- Predomínio de altas ou baixas frequências
Quanto à variação no tempo:
- Contínuo: ruído com poucas variações (aproximadamente 3 dB) durante o período de observação
- Intermitente: ruído cujo nível varia de maneira apreciável (mais de 3 dB) e que continua durante o período de observação
- Ruído de impacto ou impulso: apresenta-se em picos de energia com duração inferior a 1 segundo
Efeitos da poluição sonora
O excesso de ruídos pode provocar várias formas de reações, além dos sintomas auditivos, como por exemplo, transtornos neurológicos, gastrointestinais e hormonais, além de:
- Tremores nas mãos e olhos
- Diminuição da reação aos estímulos visuais
- Dilatação pupilar
- Vertigens ou síncope
- Náuseas e/ou vômitos
- Diarreia ou constipação
- Dores abdominais
- Taquicardia
- Elevação da pressão arterial
- Aumento de adrenalina e cortisol
- Insônia
- Ansiedade
- Fadiga
- Cefaleia
- Alterações de humor
- Disfunções sexuais
- Falta de apetite
- Redução da habilidade e da destreza manual
- Redução da atenção e concentração
- Diminuição do rendimento e eficiência
Estudo feito em um hospital público de Curitiba, com 138 profissionais de enfermagem, apontou que a queixa auditiva mais citada em relação à exposição aos ruídos foi o zumbido (14,49%), e a extra auditiva foi a irritação (45,63%), seguida de alteração do sono e dor de cabeça (44,20%) e baixa concentração (34,78%). (Costa, Lacerda e Marques)
Portanto, tratando-se do ambiente hospitalar, o aumento da carga cognitiva pela exposição ao ruído associada a esses sintomas pode aumentar a possibilidade de ocorrência de erros e acidentes de trabalho.
Limites de tolerância para ruído contínuo ou intermitente:
Nível de ruído dB (A) | Máxima exposição diária permissível |
85 | 8 horas |
86 | 7 horas |
87 | 6 horas |
88 | 5 horas |
89 | 4 horas e 30 min |
90 | 4 horas |
91 | 3 horas e 30 min |
92 | 3 horas |
93 | 2 horas e 40 min |
94 | 2 horas e 15 min |
95 | 2 horas |
96 | 1 hora e 45 min |
98 | 1 hora e 15 min |
100 | 1 hora |
102 | 45 min |
104 | 35 min |
105 | 30 min |
106 | 25 min |
108 | 20 min |
110 | 15 min |
112 | 10 min |
114 | 8 min |
115 | 7 min |
Fonte: Ministério do Trabalho
A exposição a níveis de ruídos, mesmo que não tão elevados, pode provocar estresse, como por exemplo, o toque repetido do telefone, um som/vibração de um condicionador de ar.
A exposição continuada a níveis elevados de ruídos pode resultar em Perda Auditiva Por Ruído (PAIR) que é a diminuição gradual da sensibilidade auditiva.
Inicialmente, essa perda é temporária pois a audição retorna aos limiares apresentados antes da exposição ao ruído. Essa recuperação ocorre, geralmente, após a jornada de trabalho ou após o período de descanso.
A repetição constante dessa rotina de exposição com mudança do limiar auditivo e a sua recuperação após o descanso, acarreta mudança permanente do limiar auditivo.
Para evitar disfunções auditivas, algumas ações devem ser adotadas como a redução do tempo de exposição (reorganização do trabalho), realização de intervalos ou pausas, uso de abafadores auriculares (equipamento de proteção individual) quando possível, e exames periódicos de audiometria.
A avaliação audiométrica é um procedimento simples e não invasivo, mas que necessita da colaboração do profissional, pois é ele quem indicará a intensidade mínima capaz de ouvir.
Para o exame são necessárias uma sala e uma cabine tratada acusticamente (com paredes duplas revestidas com material isolante externamente e material absorvente internamente) para evitar que sons externos, como máquinas, conversas, alarmes, interfiram nas respostas do profissional examinado e o equipamento especial para determinar os limiares ou níveis de audição denominado audiômetro.
Para a avaliação audiométrica, dentro da cabine acústica, coloca-se o fone de ouvido no profissional e solicita-se que ele aperte um botão de respostas toda vez que ouvir os estímulos (semelhantes a apitos). Esse exame vai estabelecer o limiar de audibilidade ou limiar auditivo, que é a menor intensidade que o profissional é capaz de perceber.
Quando necessário, também, é feita a logoaudiometria que é a avaliação das respostas aos sons da fala. Por meio de um microfone as palavras pronunciadas devem ser repetidas pelo profissional. Esse exame vai estabelecer o limiar de inteligibilidade, ou seja, a intensidade mínima de inteligibilidade para a fala.
Normas Regulamentadoras (NR) correlatas:
- NR 32 – Segurança e saúde no trabalho em serviços de saúde
- NR 6 – Equipamentos de proteção individual
- NR 9 – Programa de prevenção de riscos ambientais
- NR 15 – Atividades e operações insalubres
- NR 17 – Ergonomia – conforto acústico
O controle de ruídos em hospitais deve ser encarado como prioridade, tendo em vista a gravidade dos riscos ocupacionais aos quais os profissionais estão expostos diariamente, comprometendo não só o desempenho de suas atividades profissionais, mas, também, a sua qualidade de vida.
Doutora em Ciências (EEUSP), pós-graduada em Administração Hospitalar (UNAERP) e Saúde do Adulto Institucionalizado (EEUSP), especialista em Terapia Intensiva (SOBETI) e em Gerenciamento em Enfermagem (SOBRAGEN). É professora titular da Universidade Paulista no Curso de Enfermagem, e professora do Programa de Especialização Lato-sensu em Enfermagem em Terapia Intensiva e Enfermagem do Trabalho na Universidade Paulista.