Olá pessoal.
Atendendo a pedidos de leitores por email, escrevo sobre um assunto que merece atenção especial: a infecção por Zika vírus.
Atualização: leia também sobre a conduta de enfermagem para a Síndrome de Guillain-Barré, possivelmente associada ao Zíka vírus.
A agência Brasil publicou em janeiro de 2016 (ler aqui) que, segundo a Organização Mundial da Saúde, o continente americano deve ter entre 3 milhões e 4 milhões de casos de Zika em 2016. A estimativa é Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), braço da Organização Mundial da Saúde (OMS). O cálculo é baseado no número de infectados por dengue, doença transmitida pelo mesmo vetor, em 2015. A organização considerou também a falta de imunidade da população para chegar a esse número.
Definição
Segundo o Ministério da Saúde, Febre do Zika Vírus é uma doença viral aguda, transmitida principalmente por mosquitos, tais como Aedes aegypti, caracterizada por exantema maculopapular pruriginoso, febre intermitente, hiperemia conjuntival não purulenta e sem prurido, artralgia, mialgia e dor de cabeça. Apresenta evolução benigna e os sintomas geralmente desaparecem espontaneamente após 3-7 dias.
Agente
Zika é um RNA vírus, do gênero Flavivírus, família Flaviviridae.
Modos de transmissão
Por meio da picada de vetores do gênero Aedes, incluindo Aedes aegypti e Aedes albopictus.
Outras possibilidades:
- Transmissão ocupacional em laboratório de pesquisa
- Perinatal
- Via sexual
- Transfusional
Segundo a Nota Técnica da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), o Centers of Disease Control and Prevention (CDC) dos Estados Unidos declarou, em dezembro de 2015, a possibilidade teórica de transmissão do Zika vírus via transfusão de sangue.
Sintomas mais frequentes
Os sintomas frequentes são parecidos com os da dengue, duram cerca de uma semana, e incluem:
- Febre baixa (37,8°C e 38,5°C) ou ausência de febre
- Artralgia (em punhos e tornozelos, com ou sem presença de edema)
- Mialgia
- Cefaleia
- Exantema maculopapular pruriginoso ou não
- Hiperemia conjuntival
Sintomas menos frequentes
- Odinofagia
- Tosse seca
- Alterações gastrointestinais (dor abdominal, diarreia, constipação), principalmente vômitos;
- Úlceras na mucosa oral
- Edema
Taxa de hospitalização
Baixa. O Ministério da Saúde (MS) recomenda o diagnóstico para todo o paciente que apresentar:
- Quadro agudo de febre baixa
- Cefaleia
- Rash maculopapular – pruriginoso ou não
Notificação
A notificação é compulsória e deve ser feita em até 24 horas – conforme Portaria MS nº 1.271, de 6 de junho de 2014.
Para isso, deve-se utilizar a ficha de notificação e o CID (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde) – A92.8.
Complicações
As complicações não são bem esclarecidas. Entretanto o Ministério da Saúde relaciona a doença aos casos de Microcefalia e Síndrome de Guillain-Barré (SGB).
Microcefalia – é uma malformação congênita em que o cérebro não se desenvolve adequadamente, apresentando um perímetro cefálico menor do que o esperado.
Não se conhece o mecanismo pelo qual o vírus Zika causa microcefalia. Sabe-se que ele entra no organismo materno pela picada do Aedes aegypti e após, pela circulação sanguínea, chega ao feto. Como este vírus tem predileção pelo tecido nervoso, esse é o tecido no qual ele provocará o dano que resulta na microcefalia. (USP Ribeirão Preto)
Síndrome de Guillain-Barré (SGB) pode ser classificada com uma polineuropatia aguda, desmielinizante e inflamatória de caráter auto imunológico. Caracteriza-se por uma desmielinização dos nervos motores principalmente, mas pode também atingir os nervos sensitivos, ocorrendo um comprometimento periférico ascendente, progressivo e simétrico. (Moraes et al, 2015)
Diagnóstico laboratorial
Segundo o MS, o diagnóstico laboratorial específico de Zika vírus baseia-se na detecção de RNA viral a partir de espécimes clínicos. O período virêmico não foi estabelecido, mas se acredita que seja curto, o que permitiria, em tese, a detecção direta do vírus até 4 a 7 dias após o início dos sintomas, sendo, entretanto, ideal que o material a ser examinado seja até o 4º. dia. No momento, não há sorologia disponível comercialmente para detecção de anticorpos para Zika Vírus no Brasil. Atualmente só há disponibilidade para realização de isolamento viral e exame polymerase chain reaction (RT-PCR), disponíveis em alguns centros de referência.
Alterações laboratoriais indiretas
- Leucopenia
- Trombocitopenia
- Ligeira elevação da desidrogenase láctica sérica (DHL), gama glutamil transferase (GGT)
- Ligeira elevação de marcadores de atividade inflamatória (proteína C reativa, fibrinogênio e ferritina)
Tratamento
Para o tratamento da febre Zika indica-se repouso, hidratação e tratamento sintomático.
O tratamento dos sintomas inclui:
- Acetaminofeno (paracetamol) ou dipirona para o controle da febre e manejo da dor
- Anti-histamínicos no caso de erupções pruriginosas
A administração de anti-inflamatórios não hormonais é contraindicada devido ao risco de complicações hemorrágicas, como ocorre na dengue.
Prevenção
No presente momento (Abril de 2016) ainda não existe vacina contra o vírus Zika.
A melhor forma de evitar a doença é controlar a proliferação do mosquito. Deve-se reduzir a densidade vetorial, por meio da eliminação da possibilidade de contato entre mosquitos e água armazenada em qualquer tipo de depósito.
Deve-se minimizar o risco da picada da seguinte maneira:
- Proteger a pele, deixando o mínimo de pele exposta
- Proteger a pele exposta com repelente
- Se o tecido for muito fino ou de trama larga, aberta, o repelente deve ser aplicado por cima do tecido
Algumas orientações para a equipe de saúde
- Notificar imediatamente os casos suspeitos
- Identificar os serviços de saúde de referência do local e o fluxo de atendimento
- Realizar ações educativas com orientações a mulheres e homens adultos, bem como a jovens e adolescentes sobre a saúde sexual e reprodutiva
- Monitorar todos os casos de recém-nascidos com microcefalia, independente de estarem relacionados com a Zika vírus – investigar a história pregressa da mãe
- Divulgar as medidas de proteção individual, principalmente para as mulheres em idade fértil e gestantes
- Reforçar as ações de prevenção e controle de vetores
- Notificar imediatamente o setor de declaração de nascidos vivos do hospital, caso algum resultado de exame, sugerindo microcefalia, seja apresentado após a emissão da DNV.
A melhor forma de prevenção da microcefalia é a realização do exame pré-natal. Além disso, ao primeiro sinal de febre ou manchas no corpo, a gestante deve procurar atendimento médico o mais rápido possível.
Doutora em Ciências (EEUSP), pós-graduada em Administração Hospitalar (UNAERP) e Saúde do Adulto Institucionalizado (EEUSP), especialista em Terapia Intensiva (SOBETI) e em Gerenciamento em Enfermagem (SOBRAGEN). É professora titular da Universidade Paulista no Curso de Enfermagem, e professora do Programa de Especialização Lato-sensu em Enfermagem em Terapia Intensiva e Enfermagem do Trabalho na Universidade Paulista.