Assédio moral

Olá amigos, espero que estejam todos bem.

Fiquei impressionada e agradecida com a repercussão do artigo sobre Síndrome de Burnout, que publiquei em Janeiro de 2015, aqui no site. No momento em que escrevo, o artigo recebeu mais de 105 mil likes somente aqui no site.

Também me impressionei com os depoimentos e emails que recebi. É preocupante ver a grande quantidade de pessoas de várias áreas (professores, bancários, vendedores, executivos, comissários de bordo) se manifestando, além de enfermeiros, técnicos, médicos, dentistas. Todos – em maior ou menor grau – relatando e se identificando com sintomas da Síndrome de Burnout.

Estudando os depoimentos e as centenas de emails que recebemos pelo formulário do site (e peço desculpas por não conseguir responder a todos), percebi que muitos casos de Síndrome de Burnout são causados, ou agravados, por uma situação terrível, mas recorrente, no ambiente de trabalho de qualquer empresa: o Assédio Moral.

Decidi então escrever sobre esse assunto, também porque, durante a minha trajetória profissional, presenciei várias situações que podem ser caracterizadas como Assédio Moral, e que levam à Síndrome de Burnout e outras consequências igualmente graves.

Além disso, infelizmente, atos de humilhação no trabalho são frequentemente relatados pelos meus alunos, que – na maioria –  são trabalhadores da área da saúde. E isso é inaceitável, em qualquer profissão.

Então, vamos ao problema: o que é o Assédio Moral no trabalho?

Definição

Assédio Moral é a exposição dos trabalhadores a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções, sendo mais comuns em relações hierárquicas autoritárias, em que predominam condutas negativas, relações desumanas e aéticas de longa duração, de um ou mais chefes dirigida a um ou mais subordinado(s), desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de trabalho, forçando-o a desistir do emprego”. (Hirigoyen,2010)

O Ministério da Saúde também define o Assédio Moral, como sendo:

“Toda e qualquer conduta abusiva (gesto, palavra, escritos, comportamento, atitude, etc.) que, intencional e frequentemente, fira a dignidade e a integridade física ou psíquica de uma pessoa, ameaçando seu emprego ou degradando o clima de trabalho”.

Como se caracteriza

Assédio Moral é, basicamente, a degradação das condições de trabalho, em que atitudes negativas dos superiores em relação aos subordinados constituem uma experiência traumática, que acarreta sérios prejuízos emocionais.

Existem quatro vias para o Assédio Moral. São elas:

  • Descendente: o superior assedia um ou mais subordinados – muito comum
  • Horizontal: ocorre entre colegas de mesmo nível hierárquico – comum
  • Misto: o assédio começa pelo superior e é imitado pelos colegas da vítima, que se unem e que também a assediam – comum
  • Ascendente: de um subordinado, ou um grupo de subordinados que se unem, para com um superior – mais raro e mais difícil de se configurar.

Essa degradação envolve, entre outras muitas ações, as descritas a seguir:

  • Isolar a pessoa do grupo em que está inserida;
  • Ridicularizá-la em público;
  • Hostilizá-la por motivos fúteis;
  • Culpá-la por erros inexistentes, imaginários;
  • Sobrecarregá-la de trabalho;
  • Exigir o cumprimento de prazos apertadíssimos;
  • Exigir a execução de tarefas praticamente inexequíveis;
  • Fornecer orientações confusas;
  • Retirar ferramentas ou instrumentos necessários ao trabalho;
  • Obrigar revista vexatória, ou revista íntima;
  • Tratar com indiferença – silêncio forçado – não cumprimentar, principalmente na frente dos demais;
  • Atribuir tarefas inúteis, degradantes;
  • Fazer ameaças explícitas;
  • Impor horários injustificados;
  • Proibir qualquer inovação ou iniciativa;
  • Divulgar problemas pessoais ou doenças existentes de forma direta ou pública;
  • Impedir de ir ao banheiro e ou controlar o tempo de permanência;
  • Insultar ou agredir verbalmente, ou fisicamente, quando estão sozinhos;
  • Criticar, desqualificar ou fazer comentários pejorativos em público;
  • Sugerir ou induzir a pessoa ao pedido de demissão.

Para ser caracterizada como Assédio Moral, essas ações devem se sustentar na jornada de trabalho por dias, ou meses. Caso contrário, são chamadas de atos isolados de humilhação.

Heinz Leymann, professor sueco, estabeleceu que, para a caracterização do Assédio Moral, é necessário que as condutas visando a humilhação da vítima se repitam pelo menos uma vez por semana durante pelo menos seis meses. Denominou esse tipo de violência como psicoterror.

Porém, é muito importante não confundir Cobranças com Assédio Moral.

Um empregador ou chefe que cobra de seus funcionários e subordinados o cumprimento de metas e tarefas, desde que de forma profissional, sem prazos impossíveis, sem ameaças, mas com firmeza, não está assediando, e não pode ser responsabilizado por Assédio Moral e nem chamado de Assediador.

Consequências

Quem é vítima não imagina que os problemas causados pelo Assédio Moral tomem proporções assustadoras com o passar dos anos. As consequências são tão graves que podem modificar a personalidade das pessoas.

Se você identificou acima alguns sinais de que sofre Assédio Moral, leia com extrema atenção o que pode acontecer com você se a situação persistir:

  1. Desestabilização emocional no trabalho e nas relações pessoais – a pessoa fica fragilizada, sensível, apresenta crises de choro e, principalmente no caso de homens, surgem ideias suicidas;
  2. Agressividade – a pessoa se irrita com facilidade e isso pode repercutir na vida afetiva, culminando até com o fim de seus casamentos e relacionamentos;
  3. Renúncia – começa a ceder a todas as tentativas e ataques do agressor, o que a longo prazo causa fraqueza, depressão e isolamento – por medo de sofrer consequências mais sérias, e torna o agressor mais poderoso;
  4. Confusão – começa a ter dificuldades de manter o raciocínio e de pensar criticamente. Sofre com picos de amnésia e perde a capacidade de ser criativo e de ter autocontrole;
  5. Dúvida – estágio mais complicado, pois a pessoa, por falta de malícia, não tem certeza se está sendo assediada ou se é apenas resultado da imaginação. E isso a torna ainda mais fragilizada, sem condições de reação;
  6. Perda da auto-estima – sentimentos de incapacidade, culpa, indignidade, e inutilidade isolamento, sensação negativa do futuro, revolta e ideias vingativas.
  7. Alterações físicas, como na Síndrome de Burnout: insônia, pesadelos frequentes, ansiedade, alterações gástricas, enxaquecas, dores musculares, diminuição ou perda do desejo sexual, entre outras. Não deixe de ler o a artigo Síndrome de Burnout, clicando aqui.

Além disso, o Assédio Moral pode acarretar danos materiais, gerados pela perda do emprego e os custos com tratamentos médicos e psicoterapias. Também pode atingir profundamente os direitos da personalidade do trabalhador, ferindo violentamente o seu amor próprio, a sua imagem, a sua auto-estima e, principalmente, a sua honra e dignidade, que são asseguradas nos artigos 1º, 3º e 5º, da Constituição Brasileira.

O silêncio

A maioria dos trabalhadores sofre e tenta suportar o Assédio Moral em silêncio. Entre as razões alegadas estão:

  • A necessidade de se manter no emprego;
  • O medo de perder os benefícios;
  • O medo de sofrer consequências maiores;
  • O medo de transferências de setor, de caráter punitivo;
  • A vergonha perante os demais.

O lado do empregador

Gestores e executivos de empresas podem (e devem) blindar seus funcionários, implementando uma estratégia que minimize a possibilidade de Assédio Moral, por parte de chefes e líderes assediadores. Entre as coisas que a empresa pode fazer, estão:

  • Definir ou atualizar a cultura organizacional, elaborando um código de conduta;
  • Revisar os regulamentos da instituição ou empresa, com a inclusão do Assédio Moral;
  • Sensibilizar a alta gerência para o problema;
  • Revisar as práticas gerenciais, incluindo ações desde o recrutamento, seleção, treinamento, avaliação de desempenho, até a promoção e remuneração dos colaboradores;
  • Combater o problema, implementando um grupo constituído por profissionais com formação especializada no diagnóstico e no enfrentamento do Assédio Moral;
  • Preparar os gestores em relação ao tipo de liderança, ao uso do poder e à organização do trabalho;
  • Desenvolver protocolos de denúncia de qualquer abuso, ou ato de humilhação no trabalho.

O lado do funcionário

E você, o que pode fazer se estiver sofrendo Assédio Moral?

Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, por meio da Cartilha elaborada pela Subcomissão de Gênero, você deve:

  • Resistir. Anote, com detalhes, todas as humilhações sofridas: dia, mês, ano, hora, local ou setor, nome do(a) agressor(a), colegas que testemunharam os fatos, conteúdo da conversa e o que mais achar necessário;
  • Dar visibilidade ao problema, procurando a ajuda dos colegas, principalmente daqueles que testemunharam os fatos, ou que também sofrem humilhações do(a) agressor(a);
  • Evitar conversar sem testemunhas, com o(a) agressor(a);
  • Procurar seu sindicato, ou órgão de classe, e relate o acontecido. As áreas jurídicas desses órgãos poderão lhe ajudar;
  • Buscar apoio de familiares, amigos e colegas.

Tanto o ato de humilhar, quanto a repetição deste ato, devem ser combatidos fortemente, pois constituem uma violência psicológica que causa danos à saúde física e mental.

As leis que tratam desse assunto ajudaram muito a atenuar a existência do problema, mas não conseguiram resolvê-lo totalmente.

Então, é necessário que a alta gerência, os líderes e os subordinados estejam totalmente conscientes sobre o assunto, e trabalhem para identificar imediatamente as atitudes que possam caracterizar o Assédio Moral, combatendo-o desde o início, resgatando o respeito e a dignidade do trabalhador, e criando um ambiente de trabalho saudável, tranquilo e produtivo.

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