Após a publicação do artigo sobre hiperinsuflação pulmonar, resolvi escrever sobre a interrupção diária da sedação em pacientes em ventilação mecânica, pois é um assunto pouco discutido entre os profissionais.
A sedação é um componente importante no manejo de pacientes em ventilação mecânica, pois diminui a resposta ao estresse, à ansiedade e à assincronia do paciente com o ventilador.
Níveis de sedação (Yagiela et al)
- Sedação mínima – nível de consciência minimamente deprimido, produzidos por métodos farmacológicos, que conserva a capacidade do paciente em manter as vias aéreas continuamente independentes e responder normalmente a estímulos táteis e verbais. Embora a função cognitiva e a coordenação possam estar discretamente prejudicadas, as funções ventilatória e cardiovascular não são afetadas.
- Sedação moderada – depressão da consciência induzida por fármacos, durante a qual o paciente responde voluntariamente a comandos verbais sozinhos ou acompanhado pela estimulação tátil da luz. Nenhuma intervenção é necessária para manter as vias aéreas permeáveis e a ventilação espontânea é adequada. A função cardiovascular costuma ser mantida.
- Sedação profunda – depressão da consciência induzida por fármaco, na qual os pacientes não podem ser facilmente acordados, mas respondem voluntariamente após estímulos repetidos ou dolorosos. A capacidade para manter a função ventilatória independente pode estar prejudicada. Os pacientes necessitam de auxílio para manter as vias aéreas pérvias e/ou suporte ventilatório. A função cardiovascular normalmente é mantida.
Embora a sedação seja importante, também, tem sido associada a efeitos adversos que culminam no prolongamento do suporte ventilatório e no maior período de internação.
A interrupção diária da sedação (DIS) ou Daily Sedation Interruption (DSI)
É utilizada em aproximadamente 40 a 50% das Unidades de Terapia Intensiva. Esse conceito surgiu com o objetivo de evitar a sedação excessiva que interfere significativamente na recuperação do paciente.
O objetivo dessa manobra é diminuir o tempo de ventilação mecânica e permanência na UTI. Além disso, reduz as alterações no estado mental (delirium).
Consiste em suspender a sedação até que o paciente desperte. Quando o paciente despertar, a infusão do fármaco pode ser restabelecida na mesma dosagem ou em metade da dose e velocidade prévias.
O uso da DIS promove a diminuição do acúmulo de sedativos e metabólitos e recuperação mental mais rápida para a ventilação eficaz. A capacidade do paciente respirar diminui o tempo de ventilação mecânica e as complicações decorrentes dela.
Razões para não realizar a DIS (Sakata)
- Receio de comprometimento respiratório,
- Não aceitação da equipe de enfermagem
- Receio de saída acidental de cateteres e drenos
- Instabilidade neurológica, respiratória e cardiovascular
- Receio de aumento da pressão intracraniana
Os problemas associados à DIS
- Elevação no índice de extubação acidental
- Retirada inadvertida pelo paciente de acessórios de monitorização e acesso venoso
- Angústia e ansiedade
- Elevação da pressão intracraniana
Contraindicações da DIS
- Em pacientes dependentes de drogas psicoativas – manifestações de abstinência – geralmente ocorrem após 6 horas da interrupção
- Em pacientes em uso de bloqueadores neuromusculares
- Nos casos de uso para controle de convulsão e de agitação
- Nos casos de isquemia miocárdica anterior (24 horas)
- Nos casos de aumento de pressão intracraniana
A Associação Médica Brasileira e a Agência Nacional de Saúde Suplementar referem que a sedação deve ser individualizada, respeitando cada paciente de acordo com as suas particularidades, estabelecendo objetivos em relação ao nível de sedação.
Para o sucesso desse procedimento é fundamental ter um número adequado de profissionais enfermeiros, médicos, fisioterapeutas com habilidade de detectar precocemente a necessidade de retorno a sedação e implementar a rotina de uso de escalas de avaliação de sedação. A escala, validada em diferentes estudos, com sensibilidade entre 93 e 100% e especificidade entre 98 e 100%, para essa finalidade é a Escala de Richmond – Richmond Agitation Sedation Scale (RASS).
Doutora em Ciências (EEUSP), pós-graduada em Administração Hospitalar (UNAERP) e Saúde do Adulto Institucionalizado (EEUSP), especialista em Terapia Intensiva (SOBETI) e em Gerenciamento em Enfermagem (SOBRAGEN). É professora titular da Universidade Paulista no Curso de Enfermagem, e professora do Programa de Especialização Lato-sensu em Enfermagem em Terapia Intensiva e Enfermagem do Trabalho na Universidade Paulista.