A posição prona (decúbito ventral) é uma manobra para combater a hipoxemia nos pacientes com Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA). A SDRA é caracterizada pelo aumento da permeabilidade da membrana alvéolo-capilar, com extravasamento de exsudato para os alvéolos, inativação de surfactante pulmonar e, como consequência, diminuição da complacência pulmonar, alteração da relação ventilação/perfusão e atelectasias.
Histórico
A primeira afirmação de que a posição prona poderia produzir efeitos benéficos surgiu em 1974, quando Bryan sugeriu que pacientes sob anestesia, quando posicionados em prona, poderiam exibir melhor expansão das regiões dorsais dos pulmões e conseqüente melhora da oxigenação.
Outras publicações posteriores evidenciaram os benefícios da melhora da oxigenação na SDRA em posição prona. Porém, ainda há controvérsias em relação à sua ligação com a mortalidade, visto que estudos randomizados e controlados não conseguiram mostrar a sua diminuição.
Efeitos fisiológicos da posição prona
- Melhora da oxigenação em 70 a 80% dos pacientes com SDRA, devido à redistribuição da ventilação alveolar e da perfusão
- Diminuição do colabamento alveolar com melhora da complacência pulmonar, pois na posição prona a região dorsal não sofre a ação do peso pulmonar, o que não ocorre na posição supina, em que a região dorsal é a mais colapsada
Tempo de aplicação
Não há consenso a respeito do tempo ideal para manter o paciente em posição prona. A maioria dos trabalhos encontrados tem em comum uma resposta mais significativa na oxigenação nas primeiras duas horas, com alguns pequenos acréscimos nas quatro horas seguintes. Atualmente é priorizado manter o paciente na posição prona pelo maior tempo possível, até a estabilização do quadro e, então, retorná-lo à posição supina, para avaliar se há a necessidade de retorno à posição.
Indicações
- Situações de necessidade de altas frações inspiradas de oxigênio – com objetivo de obter oxigenação adequada.
- Principal indicação: SDRA
Contraindicações
- Queimaduras
- Ferimentos na face ou região ventral do corpo
- Instabilidade da coluna vertebral
- Hipertensão intracraniana
- Arritmias graves
- Hipotensão severa
Procedimentos
São necessárias quatro pessoas para o posicionamento do paciente. Daí a importância da equipe multiprofissional atuante e coesa na UTI:
- Um profissional deverá permanecer na cabeceira do leito e será o responsável pelo tubo orotraqueal
- Uma segunda pessoa ficará responsável pelos drenos, cateteres e conexões para que não sejam tracionados
- E as outras duas, posicionadas uma de cada lado do leito, serão responsáveis por virar o paciente, primeiramente para o decúbito lateral, e em seguida para a posição prona. Os braços devem ser posicionados ao longo do corpo, com a cabeça voltada para um dos lados, e os eletrodos de monitorização cardíaca fixados no dorso
Complicações
- Edema facial
- Obstrução de vias aéreas
- Lesões cutâneas
- Perda de acessos venosos e sondas
- Extubação acidental
- Queda transitória da saturação
- Aumento da necessidade de sedação
Video
Assista ao video do procedimento de PRONA, gravado pela Profa. Dra. Larissa Bertacchini e equipe multidisciplinar da Escola de Educação Permanente do Hospital das Clínicas clicando aqui.
Referências
- Bryan AC. Conference on the scientific basis of respiratory therapy. Pulmonary physiotherapy in the pediatric age group. Am Rev Respir Dis. 1974; 110: 143-4.
- Albert RK, Hubmavr RD. The prone position eliminates the compression of the lungs by the heart. Am J Respir Crit Care Med. 2000; 161(5): 1660-5.
- Mancebo J, Gordo F, Albert RK. Prone vs supine position in ARDS patients. Results of a randomized multicenter trial. ATS Internacional Conference.2003, May-16-21, Seattle WA.
- Figura 1: Meralgia Paresthetica after Prone Positioning Ventilation in the Intensive Care Unit,” Case Reports in Critical Care, vol. 2016, Article ID 7263201, 3 pages, 2016. – Scientific Figure on ResearchGate. Available from: https://www.researchgate.net/figure/Mechanical-ventilation-of-the-patient-in-prone-position_fig1_308688641 [accessed 21 Jul, 2017]
Mestre em Ciências (UNIFESP), Especialista em Fisioterapia Respiratória (ISCMSP). Professora da Universidade Paulista no Curso de Fisioterapia e Fisioterapeuta do CESAFIS (Centro Santista de Fisioterapia).