Olá! Hoje, abordarei um tema de sala de aula, na disciplina de atendimento ao paciente crítico: o Choque Séptico.
Sei que muitos de vocês trabalham em unidades de pacientes graves, e nas Unidades de Terapia Intensiva praticamente todos os pacientes apresentam um ou mais fatores de risco para a ocorrência do choque séptico. Por exemplo: idade avançada, doenças crônicas, neoplasias, mau estado nutricional, terapêutica imunodepressora, procedimentos invasivos, entre outros.
Primeiro temos que entender em que consiste o choque.
Definição
O choque é caracterizado por uma incapacidade do sistema circulatório para fornecer oxigênio e nutrientes aos tecidos de forma a atender as suas necessidades metabólicas.
É uma condição fisiopatológica caracterizada por hipotensão arterial severa, má perfusão e lesão tecidual.
Essa hipoperfusão dos tecidos, secundária à redução do volume sanguíneo, do débito cardíaco ou da redistribuição inadequada de sangue, ocorre independente do fator clínico.
Classificação dos choques
- Choque hipovolêmico
- Choque cardiogênico
- Choque distributivo
- Choque neurogênico
- Choque anafilático
- Choque séptico
- Choque obstrutivo
O choque séptico
O choque séptico é uma falência circulatória aguda de causa infecciosa. Condição anormal e grave causada por uma infecção generalizada – presença de agente patológico capaz de produzir resposta sistêmica.
O choque séptico é classificado como um choque distributivo, ou seja, causado por diminuição do tônus vascular e caracterizado por hipotensão, redução do débito cardíaco e oligúria.
“A sepse, sepse grave e o choque representam a evolução cronológica da mesma síndrome. Portanto, antecipar o reconhecimento do risco de sepse é um ponto central para a redução da mortalidade associada à sepse grave ou ao choque séptico”. (Westphal e Lino, 2015)
Causas
As infecções gastrointestinais, urinárias e pulmonares são as mais comuns. As toxinas são liberadas por microorganismos – mais frequente é a bactéria, mas pode ocorrer por vírus, fungos e protozoários.
Estatísticas
Abaixo, alguns dados estatísticos sobre choque séptico (Rocha et al, 2015):
- Taxa média de mortalidade intra-hospitalar em torno de 20%
- Taxa de mortalidade em 90 dias entre 20% e 50%
- Taxa de mortalidade em 28 dias atinge cerca de 50% com uma densidade de incidência de 30 casos por mil pacientes/dia, no Brasil
- Custo médio por paciente é de US$ 22.100, o que representa uma despesa anual de aproximadamente US$ 17 bilhões, somente nos Estados Unidos
Segundo Silva, 2004, cerca de 10 % dos leitos das Unidades de Terapia Intensiva são, atualmente, ocupados por pacientes sépticos e estima-se que 35 a 40 % dos pacientes sépticos evoluem para o estado de choque.
Fatores predisponentes para o choque séptico
- Diabetes Mellitus
- Cirrose
- Estados leucopênicos (especialmente quando associados a neoplasias e agentes citotóxicos)
- Infecções anteriores no trato urinário, gastrointestinal, biliar
- Dispositivos invasivos (cateteres, drenos, acessórios ventilatórios)
Fatores de pior prognóstico na sepse e no choque séptico
- Extremos de idade
- Diabetes Mellitus
- Cirrose
- Insuficiência renal crônica
- Insuficiência cardíaca
- Imunossupressão (portadores da síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA), transplantados, pacientes com neoplasias)
Fisiopatologia (Saraiva, 2012)
- Liberação de toxinas por microorganismos invasores
- As endotoxinas são liberadas pelas paredes celulares das bactérias gram negativas quando destruídas pelo sistema imunológico e as exotoxinas são libertadas pelas gram positivas e outros microrganismos, enquanto permanecem vivos dentro do organismo
- Como resposta aos invasores, ocorre uma variedade de mecanismos, como a ativação de mediadores imunológicos, lesão dos endotélios e ativação dos sistemas endócrino e neurológico
- Em seguida, ocorrem alterações da permeabilidade da membrana capilar, da coagulação, da distribuição do sangue pelos tecidos e do metabolismo
- Há queda da resistência vascular sistêmica e da pressão arterial
- Embora o débito cardíaco aumente, não é possível manter um adequado fornecimento de oxigênio, resultando em fluxo sanguíneo deficiente com hipóxia celular.
Sinais e sintomas
Fase hiperdinâmica ou quente – Inicial:
- Hipertermia, calafrios
- Pele quente e ruborizada, pulso cheio
- Taquicardia
- Taquipnéia – alcalose respiratória
- Confusão mental
- Débito cardíaco normal ou elevado
- Plaquetopenia
Fase hipodinâmica ou fria – Tardio:
- Cianose
- Pele fria e úmida (pegajosa)
- Taquicardia com pulso filiforme (fino)
- Hipotensão arterial
- Respiração rápida e superficial
- Oligúria – anúria
- Diminuição do débito cardíaco
- Coagulação intravascular disseminada
- Diminuição do nível de consciência – sonolência, letargia, confusão mental, coma.
- Aumento do ácido láctico – acidose metabólica
- Leucocitose
Tratamentos
- Oxigenoterapia
- Acesso venoso central
- Monitorização da Pressão Venosa Central (PVC)
- Reposição volêmica rápida – cristaloides (Soro Fisiológico, Ringer Lactado) e colóides (Plasma, Albumina, Gelatinas)
- Correção do distúrbio ácido-base (acidose)
- Correção de distúrbios metabólicos (hipocalcemia, hipoglicemia)
- Drogas vasoativas – dopamina, dobutamina, noradrenalina
- Antibioticoterapia – geralmente é baseada na flora prevalente do hospital e em sua suscetibilidade aos antibacterianos, na localização da infecção e no estado clínico global do paciente
- Suporte nutricional – enteral (gástrica ou pós-pilórica) ou parenteral
Diagnósticos de enfermagem
Relaciono, abaixo, alguns diagnósticos de enfermagem:
- Diminuição do débito cardíaco (fase hipodinâmica): relacionada a vasodilatação, comprometimento da função cardíaca e déficit de volume de líquido
- Troca de gases prejudicada: relacionada à mudanças na membrana alvéolo-capilar causada por edema intersticial, destruição alveolar e liberação de endotoxinas
- Nutrição alterada, menor que as necessidades orgânicas: relacionada à sepse
- Integridade da pele prejudicada: relacionado a diminuição da perfusão tecidual e edema
- Padrão respiratório ineficaz: relacionado ao desequilíbrio na ventilação-perfusão
- Termorregulação ineficaz: relacionada à sepse com efeito concomitante das endotoxinas sobre o hipotálamo
- Perfusão tissular ineficaz (renal/cardiopulmonar/periférica): relacionada a diminuição da oxigenação resultando na incapacidade de nutrir os tecidos no nível capilar.
Doutora em Ciências (EEUSP), pós-graduada em Administração Hospitalar (UNAERP) e Saúde do Adulto Institucionalizado (EEUSP), especialista em Terapia Intensiva (SOBETI) e em Gerenciamento em Enfermagem (SOBRAGEN). É professora titular da Universidade Paulista no Curso de Enfermagem, e professora do Programa de Especialização Lato-sensu em Enfermagem em Terapia Intensiva e Enfermagem do Trabalho na Universidade Paulista.